Foi entregue na Assembleia da República uma petição que apela à preservação e salvaguarda da Academia de Amadores de Música, uma instituição histórica cuja sobrevivência está em sério risco.
Fundada em 1884, a Academia desempenha um papel único na valorização do património histórico e cultural de Portugal. O seu encerramento representaria uma perda irreparável para a memória coletiva do país, especialmente no ano em que se assinalam os cinquenta anos do 25 de Abril, um marco na luta pela liberdade e pela democracia.
Para além de ser um centro de ensino musical, a Academia tornou-se um bastião de resistência cultural durante o período do Estado Novo. Professores como Fernando Lopes Graça, Luís de Freitas Branco, Francine Benoît e Maria da Graça Amado da Cunha, que enfrentaram perseguições do regime, lecionaram ali. Em 1950, a Academia começou a publicar a revista Gazeta, uma publicação de linha antifascista que contou com a colaboração de intelectuais como Mário Dionísio, João Cochofel, José Rodrigues Miguéis e Augusto Abelaira.
O edifício da Rua Nova da Trindade, agora ameaçado de perder, acolheu durante anos os concertos da Sociedade de Concertos “Sonata”, onde se reuniam intelectuais e opositores ao regime. Nomes como Irene Lisboa, José Gomes Ferreira, Francisco Keil do Amaral e Maria Keil marcaram presença nesses eventos, que eram simultaneamente momentos culturais e encontros de resistência.
Nesta sala histórica, decorreu também a última atuação pública do pianista José Viana da Mota, discípulo de Franz Liszt, em 1945. Foi ali que Maria João Pires, então com apenas 11 anos, maravilhou o público com a sua genialidade. O espaço foi igualmente a casa do coro “Os Canários”, dirigido por Fernando Lopes Graça, e de inúmeros outros momentos que fazem parte da memória cultural do país.
Os signatários da petição defendem que é responsabilidade do poder político salvaguardar esta instituição centenária, garantindo a sua continuidade e protegendo o seu legado. Em tempos de fragilidade democrática, assegurar a manutenção da Academia de Amadores de Música é um dever de todos, em prol da preservação da história e da cultura nacionais.